Integração entre automação e TI e soluções com base em energia renovável são duas delas; transformação do setor de energia exige adaptação das empresas
O setor de energia passa por um momento de intensa transformação, motivado, principalmente, pelo avanço da tecnologia e por variadas demandas da sociedade atual. Essas mudanças – e os caminhos para se adaptar a elas – foram o foco de discussão dos dois principais eventos ligados a utilities e conectividade no ano: o Utilities Telecom & Technology Council América Latina (UTCAL) 2019, que ocorreu entre os dias 27 a 29 de março na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro; e a DistribuTECH International 2019, realizada entre os dias 5 e 7 de fevereiro em New Orleans, nos Estados Unidos.
Com o objetivo de apurar e elencar as principais tendências do setor para 2019 e os próximos anos, ouvimos dois especialistas da 2S que estavam lá para contribuir com a discussão: Gisele Braga, gerente de transformação digital, que participou da UTCAL, e Alexandre Amaral, diretor regional de vendas, que esteve na DistribuTECH. Conheça os pontos altos de ambos os eventos:
1- Migração: toda a plataforma de comunicação por voz e vídeo do mercado de utilities está migrando para um ambiente 100% IP, que permite a comunicação por meio da rede de dados. Esse modelo aumenta a eficiência e segurança das comunicações em um setor que possui frotas na rua para atender aos chamados do usuário final e que precisa aumentar o nível de disponibilidade, melhorando processos de abertura, atendimento e fechamento de ordens de serviços. Segundo Amaral, esse modelo foi apresentado anos atrás como uma tendência e agora começa a se tornar realidade e se expandir.
2- Integração entre automação e TI: quando se fala em conectar subestações automatizadas, essa integração entre times é fundamental. A automação utiliza protocolos e sistemas direcionados ao negócio, como o SCADA (Sistema de Supervisão e Aquisição de Dados) e o GOOSE (protocolo de comunicação entre dispositivos da subestação), enquanto a TI usa protocolos e sistemas direcionados à comunicação com o ambiente externo, como as redes Ethernet IP e segurança da informação. A junção desses sistemas exige parceria para construção de um ambiente robusto, com infraestrutura que suporte o modelo.
“Tanto no setor privado quanto no público, automação e TI ainda tendem a atuar de forma separada e com diferentes estratégias, quando o caminho mais assertivo é criar soluções integradas, que têm custo menor”, destaca o especialista da 2S.
3- Smart grid (cidades inteligentes): um dos assuntos mais discutidos na UTCAL consiste em conectar medidores ao usuário final. “Dessa maneira, a operação se torna totalmente remota, diminuindo custos e otimizando as medições realizadas nas cidades, sem a necessidade de operadores humanos porta a porta”, explica Gisele.
Um dos componentes do conceito é o smart meters, que são medidores digitais que reúnem, armazenam e transferem os dados de consumo. Eles se distinguem dos eletromecânicos por fazerem a captação digital dos dados, independentemente do tipo de insumo medido (água, gás ou combustível). Outro componente são os smart bridges (pontes inteligentes), que interligam dispositivos inteligentes à internet, permitindo monitoramento e controle a partir de um dispositivo móvel.
Essas tecnologias trazem inteligência aos sistemas, conectando a rede elétrica e diminuindo o desperdício de energia. Elas permitem, por exemplo, que as informações sobre consumo sejam coletadas via wireless, sem necessidade de equipe na rua. Fora do Brasil, esse modelo já é realidade. “Ele tem como base a Internet das Coisas (IoT) dentro do ambiente do usuário. Por exemplo, hoje há geladeiras que mostram quantos watts estão consumindo. Elas geram dados que podem ser trabalhados por ferramentas de Business Intelligence (BI) pelas empresas de energia, fornecendo informações do perfil de consumo dos clientes”, explica Amaral.
4- Soluções de automação de fontes de energia renováveis: países com altos índices de geração de energia renovável necessitam cada vez mais de soluções específicas para esses modelos, com foco na comunicação e integração dos dados de células fotovoltaicas, sistemas de biocombustíveis ou eólicos, entre outros. Há uma tendência de que esses modelos se expandam nos próximos anos em detrimento do uso de combustíveis fósseis, exigindo sistemas mais complexos para suportar a demanda.
5- Realidade aumentada: trata-se do uso da tecnologia digital para interação com o ambiente real. Na prática, os óculos de realidade aumentada permitem que técnicos em campo possam compartilhar informações visuais com a central em tempo real. Assim, é possível identificar detalhes sobre a manutenção e potenciais riscos do serviço, entre outros dados. Esse recurso permite, por exemplo, a manutenção preditiva através de câmeras de análises térmicas, que conseguem perceber sobrecargas em transformadores.
Na UTCAL, Gisele destaca a apresentação de uma solução para as frotas das distribuidoras de energia utilizando realidade aumentada. “A solução visa aumentar a disponibilidade do veículo para atendimento, através da melhoria de recursos de conectividade e englobando, em único dispositivo, sistemas existentes nos veículos, tais como autenticação do motorista, chaveamento para modem satélite, interface para recepção de OS, etc. A solução é composta pelo gateway de comunicação e telemetria, interface de interação entre o eletricista e a central, e também realidade aumentada.”
Desafios
Gisele enfatiza dois desafios da indústria de energia relacionados à tecnologia. O primeiro é a conectividade segura. “A conectividade em subestações, por exemplo, pode significar uma porta de invasão se não estiver estruturada em um sólido sistema de segurança da informação”. Segundo a especialista, a conectividade é necessária para resolver questões como mobilidade, gestão remota, manutenção preditiva e segurança do trabalho, mas sua eficácia depende da estrutura de segurança da informação sobre a qual ela foi construída.
O segundo desafio citado por Gisele é a dificuldade de disponibilizar sinal para frotas do setor de distribuição em localidades remotas e de difícil acesso. “É preciso estruturar muito bem a solução proposta para que possamos alcançar o maior nível de disponibilidade possível, combinando soluções de conectividade e relacionando aos custos de utilização desses serviços.”
Conforme os especialistas, muitas dessas tendências vão se tornar realidade em médio ou até curto prazo. O objetivo principal de todas elas é equilibrar os custos das empresas e melhorar a distribuição para o usuário final que, com a tecnologia, terá mais segurança e um serviço de melhor qualidade pagando menos.