Parceria para conectar linhas de produção da fábrica de São Carlos chama atenção da matriz global e otimiza resultados produtivos
Fundada na Suécia em 1919, a Electrolux, uma das principais fabricantes de eletrodomésticos e aparelhos para uso profissional do mundo, possui hoje quatro fábricas no Brasil, sendo duas em Curitiba (Paraná), uma em Manaus (Amazonas) e uma em São Carlos (São Paulo). Foi justamente a última unidade que ganhou, em janeiro de 2019, o título de primeiro projeto de indústria 4.0 implementado na empresa na América Latina. Com apoio da 2S Inovações Tecnológicas, todas as linhas de produção da unidade foram conectadas, o que permitiu acesso a dados em tempo real para a tomada de decisão.
Nesta entrevista, Carlos Vicari, supervisor de infraestrutura de TI, e Jorge Watanabe, gerente de infraestrutura de TI para a América Latina, explicam os detalhes da implementação, que levou nove meses para ser concluída e transformou a fábrica em uma referência mundial da marca – – chamando, inclusive, a atenção do CEO global, Jonas Samuelson.
1- Qual necessidade motivou o projeto de indústria 4.0? Quais eram as dores que ele se propunha a resolver?
Carlos Vicari: O projeto faz parte de uma diretriz global com foco em transformação digital das fábricas. Fizemos um pequeno teste em uma unidade dos Estados Unidos, mas o tamanho do desafio e das conquistas na fábrica de São Carlos foi muito maior. Tanto que a unidade se tornou um modelo para as outras fábricas. Ela foi escolhida porque já era uma das plantas mais automatizadas e também pelo porte que viabilizava a execução do projeto dentro do prazo que pretendíamos.
2- Quais foram os objetivos, escopos e tecnologias/soluções definidos dentro do projeto? E quais foram as etapas mais desafiadoras?
Carlos Vicari: O principal objetivo foi implementar por completo uma indústria 4.0 na unidade. O escopo incluiu a conexão entre operações automatizadas e digitalização de processos, de forma a garantir que todas as informações sobre a produção estivessem disponíveis online e em tempo real, o que nos possibilita trabalhar com indicadores precisos para a tomada de decisão. O mais desafiador foi compor a solução da topologia de rede que estivesse adequada ao custo do projeto mas sem visão sobre o futuro. Afinal, como se trata de uma experiência pioneira para a Electrolux, tivemos que dimensionar e desenhar a solução sem saber exatamente qual será a demanda futura.
Jorge Watanabe: O nosso objetivo principal sempre foi garantir alta disponibilidade de informações na fábrica como um todo, ou seja, trazer mais tecnologia, equipamentos e conexões com a meta desafiadora de evitar falhas em uma fábrica que opera 24 por 7. Então precisamos garantir redundância e alta disponibilidade dos equipamentos. Um ponto desafiador importante de se destacar foi a construção de um segundo data center dentro da fábrica, com piso elevado, sistema de combate a incêndio e todas as ferramentas necessárias. Também foi desafiador incorporar e conectar novos devices na nossa linha de produção.
3- Como foi a parceria com a 2S na idealização e implementação do projeto?
Jorge Watanabe: O suporte foi fundamental para a implementação, com a garantia de que teríamos os equipamentos no momento certo, funcionando da forma correta. A 2S entendeu as dores e entregou as soluções de acordo com as nossas expectativas. Um exemplo foi a necessidade de fazer um teste para verificar se uma determinada solução fazia sentido antes de comprarmos os demais equipamentos. E a parceria com a 2S possibilitou um empréstimo dos equipamentos para a realização do teste, sem o compromisso de uma compra. Foi um ponto importante que serviu para auxiliar, minimizar dores, dúvidas e incertezas do que seria implementado, se faria sentido ou não. O fato é que implementar um software de prateleira de mercado qualquer um implementa. Mas vender, entregar, configurar, dar suporte necessário e, mais que isso, sentir as nossas dores e encontrar soluções criativas para elas, com customização, são poucos parceiros que fazem.
4- Quanto tempo levou a implantação do projeto, quando foi concluída e como impactou a operação da fábrica?
Carlos Vicari: A implantação começou em novembro de 2018 e, até o momento, 95% do escopo foi entregue. Um resultado positivo que já conseguimos mensurar é que desde o momento em que refizemos a rede e o data center, não tivemos nenhum problema relacionado à rede no local. No período faltou energia, houve alteração de produção, e mesmo assim não registramos nenhuma intercorrência.
5- Como foi a comunicação e integração dos times de automação e TI para execução da fábrica 4.0.?
Jorge Watanabe: A relação foi muito bem integrada, engajada e, sem essas características, não teríamos como seguir em frente com o projeto. Um ponto que é bastante desafiador agora é entender como fazemos a governança e estabelecemos regras e responsabilidades de um processo fim a fim. A indústria 4.0 engloba tudo, desde o chão de fábrica até os servidores. De quem é a responsabilidade por tudo isso? Da TI, da automação, da produção? Essas discussões estão acontecendo agora e fomentaram a ideia de criarmos um centro de excelência para lidar com o tema. Por enquanto a responsabilidade é do pessoal de tecnologia de automação de chão de fábrica, porque são eles que estão lá no dia a dia. Mas quando precisamos entrar em detalhes de servidor, de comunicação entre linha de chão de fábrica e banco de dados, aí precisamos de intervenção da TI. É um processo em construção, apesar de a indústria 4.0 já estar em operação há seis meses. São detalhes de refinamento.
Carlos Vicari: Esse é um desafio mais cultural que a gente tem. Na TI há muitos processos, regras e governança estabelecida há anos. Mas a automação é muito mais mão na massa, vai lá e faz, não tem essa preocupação de governança tão latente. O desafio agora é fazer a automação andar junto com a TI, porque sem que as demandas sejam resolvidas, corre-se o risco de parar a planta inteira por conta de alguma intercorrência. Todos precisam ter suas responsabilidades bem claras e definidas por regras estabelecidas.
6- Qual foi a repercussão desse projeto na Electrolux mundo?
Jorge Watanabe: O CEO global visitou a nossa planta em março e ficou impressionado com toda a estrutura. A Electrolux tentou implementar um projeto semelhante nos Estados Unidos, mas lá houve algumas intercorrências. Por isso, o projeto de São Carlos se tornou uma referência dentro do grupo: quem quiser implementar um projeto do tipo deverá ter a planta como modelo.
7- Já é possível medir os resultados do projeto? Quais ganhos a empresa já percebe?
Carlos Vicari: O principal resultado foi o aumento da performance e visibilidade da linha de produção, que traz ganhos de produtividade e ganhos humanos. Esses benefícios foram tão bem vistos pelo grupo que estamos acelerando projetos para outras unidades.
8- Quais fatores contribuíram de forma decisiva para o sucesso desse projeto?
Carlos Vicari: Sem dúvida a etapa de planejamento foi decisiva. A condução e a execução das equipes à frente do projeto também foi muito profissional, tanto nossos profissionais internos de TI quanto os terceiros, todos muito comprometidos.
Jorge Watanabe: A colaboração foi outro fator de destaque. A 2S e os demais parceiros construíram fisicamente o data center, fizeram o cabeamento, colocaram os equipamentos para rodar, enfim, se desdobraram para atingir prazos. Eu também diria que o planejamento foi fundamental. Foi 80% do tempo planejando e 20% entregando, testando e configurando. Ao todo tivemos um ano para planejar, investimentos várias horas e um grande esforço que facilitou a entrega.
9- Há expectativa de ampliar o projeto para outras fábricas da Electrolux no Brasil? Se sim, como estão os planos e quais os próximos passos?
Jorge Watanabe: Já estamos na etapa de planejamento de implementação do projeto de indústria 4.0 na planta de Guabirotuba, em Curitiba. Há interesse de plantas em Manaus, e também em outros países da América Latina, como o Chile. Com certeza não vamos parar por aqui, o modelo será replicado em outras fábricas.
10- O que a fábrica 4.0 representa para a Electrolux em termos de posicionamento no mercado brasileiro de eletrodomésticos?
Carlos Vicari: A indústria 4.0 aumenta nossa velocidade de resposta a qualquer variação de mercado. Se precisamos aumentar ou diminuir a demanda em um determinado momento, podemos mensurar isso de forma online. Hoje o gerente da planta consegue visualizar rapidamente o que está planejado para a próxima hora, o dia todo, o mês e o ano. Antigamente não havia essa visão. Então, fica mais fácil de reagir às demandas do mercado.
Jorge Watanabe: Com automatização, mais visibilidade, dashboards, KPIs e performance ampliada, diminuímos o custo de produção e aumentamos a produtividade. Hoje percebemos um menor custo agregado no produto e maior flexibilidade e velocidade na entrega do que foi planejado.
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