Compartilhamento de metas entre departamentos possibilita aquisição de tecnologias que beneficiem a todos e promovam inovação
O Brasil fica para trás da maioria dos países quando o assunto é inovação. Dos 37 segmentos analisados em um levantamento sobre o tema pelo pesquisador Paulo Morceiro, da Universidade de São Paulo (USP), apenas cinco ultrapassam a fronteira tecnológica – definida pela taxa média investida em pesquisa e desenvolvimento. Mas por que ainda é tão difícil inovar?
Para começar a responder essa questão, precisamos, primeiro, avaliar como funciona, hoje, uma empresa. O mercado brasileiro ainda opera na base da departamentalização, na qual cada área da companhia pensa e busca resolver seus próprios problemas, sem avaliar o todo – embora muitas metas sejam comuns. Essa prática leva a um impasse: com frequência, não há orçamento suficiente para investimento em tecnologia.
Imagine a seguinte situação: em uma mina subterrânea larga e profunda, um dos principais desafios do departamento de recursos humanos é garantir a segurança do trabalhador, em especial durante implosões necessárias para a exploração de minério. Primeiro, não pode haver ninguém dentro da mina quando a implosão ocorre. E, depois que ela é realizada, nenhum colaborador pode entrar lá sem que o ar esteja totalmente livre de impurezas.
Em geral, esse controle de pessoal ocorre por meio de um simples pedaço de papel na entrada da mina, onde o trabalhador anota seu nome ao entrar e sair. Se um deles esquecer de cumprir esse procedimento, a empresa pode perder horas de produção até comprovar que a mina está vazia, ou, no pior caso, perder profissionais, se não for suficientemente criteriosa.
Uma possível solução é conectar toda a mina com um sistema de wi-fi e implementar sensores nos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dos profissionais. Resolvem-se aí dois desafios do RH: a garantia de que o colaborador saiu da mina e que ele está usando adequadamente os equipamentos. Mas somente os recursos do departamento costumam ser insuficientes para um projeto desse tamanho. E ele é, então, engavetado.
Para Renato Carneiro, presidente da 2S, o desafio está na falta de comunicação. “Os departamentos precisam pensar em conjunto sobre suas dores, compartilhando metas e métricas em busca de uma solução que atenda suas múltiplas necessidades. Assim, somam-se os orçamentos de todas as áreas para viabilizar o projeto. Mas, na prática, as empresas ainda tendem a atuar de forma departamental, perdendo oportunidades de alavancar a transformação digital”, destaca.
Carneiro volta ao exemplo da mina. Conforme o especialista, o mesmo sistema de wi-fi e sensores com Internet das Coisas responde às dores de outros departamentos além do RH. A meta do financeiro, por exemplo, é reduzir despesas. Como parte do processo de implosões, após cada uma delas é preciso ligar os ventiladores subterrâneos por, em média, seis horas para dispersar as partículas. Porém, se há um sensor de qualidade do ar dentro da mina, também conectado via wi-fi, pode-se descobrir que o ar está limpo em duas horas, economizando-se quatro horas de gastos de energia.
Já o departamento de operações tem como meta aumentar a produtividade. E aqui vale o mesmo exemplo: a mina pode voltar ao funcionamento antes do tempo médio previsto se os sensores são capazes de identificar com precisão a qualidade do ar, ganhando horas de produção que antes eram desperdiçadas.
Os benefícios também se estendem para a logística, pois, com a conexão, é possível localizar em tempo real os caminhões que transportam os minérios dentro da mina, eliminando um problema. Isso porque, quando há troca de motoristas, os colaboradores perdem muito tempo tentando localizar os veículos na extensão da mina.
Os gestores de TI podem assumir um papel decisivo para estimular a união das áreas e viabilizar os investimentos em tecnologia, segundo o presidente da 2S. Mas, para tanto, devem ter um perfil específico: “Conhecer o negócio, entender as demandas de cada área e pensar em soluções que beneficiem a todos. Assim, a TI assume papel estratégico e deixa de ser vista somente como custo pela empresa, já que ela é a provedora da inovação.”
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