por Renato Carneiro*
A pandemia mudou o planeta e acelerou a transformação digital. Projetos e tecnologias que já existiam, mas que eram tocados de forma lenta e gradual, ano a ano, foram apressados. E situações imprevisíveis, há dois anos, são, agora, tão corriqueiras que já não têm nada de novo. São apenas normais.
O trabalho remoto é um bom exemplo de novidade que veio para ficar. Quando o mundo se fechou, em março de 2020, o home office tirou empresas e funcionários da zona de conforto e trancou todo mundo em casa. Foi um desespero: tem que trabalhar, mas também tem que cuidar dos filhos; tem que fazer o almoço, mas não pode perder a reunião; tem que limpar a casa, mas os relatórios precisam ser entregues, as crianças precisam de ajuda para estudar, o supermercado precisa ser feito, as metas têm que ser batidas. Em meio ao caos, a vida teimava em acontecer. Mas como, se o colega está a quilômetros de distância e o horário de expediente e o das tarefas domésticas viraram uma coisa só?
Foi uma loucura tão grande que todo mundo sonhava em voltar ao escritório. Só que o ser humano se acostuma com as situações a que é submetido. Com o tempo e com a tecnologia, as coisas se ajeitaram e as pessoas se viram livres do trânsito, de pegar condução, dos horários fixos. E, vejam só, o trabalho híbrido virou o presente. E vai ser o futuro. Ninguém mais quer voltar ao escritório cinco dias por semana, como era antes; a maioria prefere ficar pelo menos três dias em casa. A vida está acomodada no home office e ali deve ficar, ao menos parcialmente.
Por outro lado, a transformação digital reforça a necessidade de segurança, um grande desafio para 2022. Como os dados na nuvem e muitos profissionais fora do ambiente de segurança da TI, essa deve ser uma preocupação constante e o tópico número um para os CEOs
Isso tem consequências, claro. Por exemplo, as empresas vão ter que se preparar para reuniões híbridas: duas pessoas participam do escritório; três interagem de suas casas. Para isso, é necessário investir em tecnologia e até repensar as salas de conferências, que precisarão ser lugares mais reservados, de forma a não atrapalhar a rotina dos colaboradores que estejam atuando presencialmente naquele dia. O trabalho híbrido pode mudar até a configuração e o tamanho dos escritórios.
Essa mudança também chegou às fábricas, com os óculos de realidade aumentada, que permitem que apenas um funcionário — e não uma comitiva — vá a um local específico resolver um problema, enquanto os demais acompanham o que se passa pelas imagens geradas pelo profissional e, de suas casas, ajudam-no a solucionar o problema. Assim, evita-se aglomeração, mas não se perde eficiência. Para os próximos anos, o 5G e a WI-FI 6 devem transformar ainda mais o trabalho. Por exemplo, em mineradoras e indústrias localizadas em áreas afastadas e sem boa cobertura de celular, a comunicação vai ficar mais fácil e será revolucionária.
Por outro lado, a transformação digital reforça a necessidade de segurança, um grande desafio para 2022. Como os dados na nuvem e muitos profissionais fora do ambiente de segurança da TI, essa deve ser uma preocupação constante e o tópico número um para os CEOs. Cibersegurança não é custo, é necessidade básica, afinal, todo mundo está sujeito a ser invadido.
Muito do que vai acontecer em 2022 é incerto ou questão de opinião. Mas podemos ter uma ideia de como seguir ao observarmos o que parece ser tendência.
Outra realidade é a crise de componentes eletrônicos, que já afeta a indústria desde o ano passado. É uma combinação complicada: impactados pela pandemia, os vendedores, em especial da Ásia, produziram menos. Por outro lado, o reaquecimento da economia aumentou a demanda. A equação não fecha, uma situação que já está na página dos jornais e sites há meses e que impacta vários setores da indústria, dos eletrônicos ao automobilístico. Para 2022, o fato é que a crise vai continuar e isso tende a diminuir as incertezas causadas pelo ano eleitoral.
Explico: para que os projetos sejam entregues ainda este ano, é necessário que sejam adiantados — os pedidos precisam ser feitos já, agora, ou o budget de 2022 não será gasto totalmente. Quem esperar a definição eleitoral para investir pode não receber os produtos este ano, por conta da falta mundial de componentes, que estica os prazos de entrega.
Há ainda o desafio da escassez de mão de obra qualificada e certificada. É cada vez mais raro o profissional que entende de chão de fábrica, das soluções que já são usadas e também das novas tecnologias. Por isso, não há outro caminho para as empresas que não seja o de formar profissionais e fidelizar equipes, investindo na experiência dos colaboradores na empresa, porque eles estão sendo constantemente assediados por outras companhias. Só assim será possível crescer e investir em novos projetos.
Na 2S, investimos na formação e certificação de quase 200 mulheres, uma iniciativa da Cisco que visa também aumentar a participação feminina no mercado de TI. Esse tipo de ação precisa continuar acontecendo.
Para o profissional de TI ou quem pensa em entrar na área, o conselho é buscar a evolução constante. Pela própria característica do setor, é impossível pensar que um profissional está completamente formado: saiu da faculdade e está pronto para o mercado? Nada disso. Ao contrário, é preciso buscar uma certificação em determinada linha de solução. Quer trabalhar em indústria 4.0? Então é importante que seja certificado em soluções que atuem nessa área.
Muito do que vai acontecer em 2022 é incerto ou questão de opinião. Mas podemos ter uma ideia de como seguir ao observarmos o que parece ser tendência.
* Presidente da 2S Inovações Tecnológicas
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