Na orquestra da mudança, atuação estratégica da TI e construção de uma nova cultura estimulam a busca de soluções para problemas que envolvem todo o negócio
O mercado de tecnologia no Brasil cresce mais que no restante do mundo. Em 2018, o aumento foi de 9,8%, atingindo a cifra de US$ 47,7 bilhões (R$ 197,4 bilhões), conforme estudo anual do IDC encomendado pela Associação Brasileira de Software (Abes). No restante do mundo, o percentual de aumento foi de 6,7%. Mesmo assim, dos 37 segmentos de negócio analisados em pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), apenas cinco ultrapassam a fronteira tecnológica no País – ou seja, investem o suficiente em pesquisa, desenvolvimento e inovação, o que mostra que o caminho rumo à transformação digital ainda está repleto de desafios.
Para Gisele Braga, gerente de transformação digital da 2S, o gargalo é cultural. Muitas vezes a tecnologia para resolver os desafios mais comuns enfrentados pelos negócios já existe, mas a parte complexa é justamente identificar quais são esses desafios. “Os gestores temem olhar para os problemas da empresa, muito por conta da velha cultura de ‘não me traga problemas, me traga soluções’. Em um período de transformação digital, no qual a inovação é vista como a salvação dos negócios, é preciso sair da zona de conforto, abandonar os receios e trazer os problemas para a mesa.”
Nesse cenário, é fundamental deixar de olhar para apenas uma engrenagem e entender o funcionamento do motor como um todo. Para tanto, conhecer a rotina de todas as áreas da companhia e analisar os problemas sem julgamentos são ações fundamentais. Elas permitem não só identificar o problema, mas também qualificá-lo e avaliar se a solução trará valor real ao negócio.
Gisele usa como exemplo uma situação real de mercado: quando questionado sobre qual o problema enfrentado na fábrica, o gestor afirma que é preciso aumentar a visibilidade digital da planta. Trata-se de uma solução. Mas qual é o problema? E, mais que isso, a solução desse problema traz um benefício real para a companhia? Na verdade, a dor são as longas pausas na produção, que geram perdas financeiras. Os fatores que levam à paralisação podem ser a falta de visibilidade das máquinas para se antecipar às falhas ou a indisponibilidade de um engenheiro local. Com o problema definido, é possível trabalhar para, de fato, identificar as diversas possibilidades de resolver esse gargalo por meio da tecnologia e, assim, escolher a que trará ROI (Return Of Investment) à empresa.
Uma cultura voltada à identificação de problemas estimula a busca de soluções que englobam todos os departamentos, e não apenas uma determinada área, como ainda costuma ser muito comum. “Há casos de empresas que usam dezenas de redes Wi-Fi diferentes, cada uma para atender uma operação específica. É o reflexo de uma TI reativa, que recebe as demandas das áreas de negócio e executa sem questionar nem pensar de forma estratégica, ou mesmo de uma TI distante da operação, que abre espaço para que as áreas usem soluções sem passar por uma avaliação especializada. E, nesse último caso, há um problemão de segurança”, explica.
O caminho para mudar esse cenário, portanto, é a TI se unir às áreas de negócio, estar presente e assumir seu papel no planejamento estratégico, agindo de forma proativa na busca para resolução de problemas. É uma tendência que ganha espaço em meio à transformação digital, mas que ainda exige uma mudança de postura das lideranças de tecnologia. Na orquestra da revolução digital, a TI deve assumir de vez o papel de maestro, unindo as demandas das diversas áreas do negócio em busca de soluções que atendam objetivos em comum.
No exemplo das diversas redes de Wi-Fi citado por Gisele, uma TI estratégica pensaria logo em construir uma arquitetura de rede que comportasse as diversas operações da companhia em um mesmo ambiente, com um percentual de uso destinado a cada necessidade específica e com escalabilidade para lidar com aumento ou diminuição de demanda. Dessa forma, é possível somar orçamentos e viabilizar investimentos para implementar soluções que atendem todo o negócio.
A especialista destaca que é papel da TI, inclusive, antecipar-se às necessidades da empresa por soluções tecnológicas. Nesse sentido, a metodologia de design thinking é citada como um caminho para promover a integração de habilidades e mentalidade inovadora, combinando empatia, criatividade e racionalidade para criar soluções bem-sucedidas de acordo com as necessidades elencadas. “Esta e outras metodologias podem ser utilizadas como uma forma de unir as pessoas em torno de um objetivo, ajudando a identificar problemas que são comuns a todos e que podem ser resolvidos por meio da tecnologia.”
Cabe à gestão de TI ter participação ativa nessas iniciativas ou mesmo estimulá-las dentro das companhias como uma forma de se antecipar às demandas. No fim das contas, são pessoas ajudando pessoas, com a tecnologia como meio para resolução de problemas e potencialização dos resultados.
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