Muito embora a migração para ambientes de cloud continue acelerada, falta de dimensionamento pode fazer custos fugirem do controle; nuvem privada em infraestrutura própria é alternativa
Quando uma tecnologia disruptiva surge e passa a ser adotada em ritmo acelerado, uma antiga questão volta aos holofotes: a anterior vai ‘morrer’? Foi assim com a televisão, que não acabou com o rádio ou o cinema, e com o MP3, que não tornou obsoleto o vinil (embora não se possa dizer o mesmo das fitas cassete). Quando se fala de infraestrutura de TI, lá vem de novo a dúvida: a computação em nuvem vai acabar com os data centers corporativos?
É uma pergunta que se torna ainda mais relevante com a nova geração de redes móveis, o 5G, virando realidade em mercados desenvolvidos como Estados Unidos e China. Mesmo com o atraso no Brasil, que prevê a chegada da ultravelocidade somente a partir de 2022, a tendência é que mais empresas migrem para a computação como serviço, por conta, principalmente, do ganho de velocidade das aplicações.
Mas, de acordo com Marcio Andrade, gerente de desenvolvimento de negócios da 2S, a resposta para esse questionamento tem de ser sempre ‘depende’, tanto de fatores tecnológicos como financeiros. “A maior parte das empresas ainda prefere manter aplicações e dados ‘em casa’, considerando que os custos de migrar não são sempre mais baixos, como acredita o senso comum”, destaca.
Rafael Nunes, especialista em vendas de data center da 2S, alerta: há empresas que fazem a migração sem estudar o real impacto. “Nuvem não é um custo previsível, já que é [pago] em dólar. Algumas empresas começaram com nuvem pública e viram que o custo era muito alto, então migraram para a nuvem privada, dentro da própria infraestrutura.”
Segundo o especialista, há uma tendência de que as empresas migrem cargas de processamento mais pesadas para dentro de casa novamente, administrando ambientes de nuvem híbrida. Além do custo, outra parte da explicação para esse movimento é cultural, traduzida pela sensação de que não há responsabilidade pela infraestrutura ou segurança na nuvem por parte dos prestadores de serviço. Outro fator é que os custos de serviços em nuvem podem variar e extrapolar orçamentos para custos operacionais, o OPEX, caso não sejam bem dimensionados.
“A companhia quer usar tecnologia para quê? É uma pergunta básica, de finalidade, mas ir para a nuvem deve sempre partir do pressuposto de saber o que levar”, pondera Andrade. De qualquer forma, é impossível negar a importância do modelo para os pequenos negócios, que tem baixíssima (quando não nenhuma) capacidade de investir em infraestrutura própria, como algumas startups.
Demanda crescente – e dividida
Além das flutuações do dólar, que impactam diretamente os custos da nuvem, o aumento exponencial do uso de dados também deve ser levado em conta ao planejar uma migração. O consumo gigantesco de serviços pode gerar impactos negativos. Se empresas pequenas talvez não tenham muito escolha, as médias e grandes geralmente preferem tirar o pé do acelerador e avaliar se (e o que) vale continuar migrando. “Na ponta do lápis, a maioria das empresas, apesar de quererem [migrar], precisam primeiro considerar o que estão levando [para a nuvem]”, explica Andrade, que também reitera aspectos legais determinantes, uma vez que “alguns dados não podem ser armazenados fora do país: financeiros, jurídicos, de saúde, etc.”
Ofertas de nuvem privada tem sido a solução para clientes com esse tipo de dificuldade, mas que também não querem abrir mão de oferecer flexibilidade e disponibilidade com segurança. Soluções de hiperconvergência, por exemplo, fazem sentido para negócios com essas características, inclusive porque oferecem ferramentas de medição e controle de infraestrutura em nuvem, seja privada, pública, híbrida ou múltipla.
Para Nunes, o fundamental na hora de decidir ou não pela migração é fazê-lo de forma consciente, avaliando gastos, infraestrutura necessária, o que deverá migrar e o que fica em casa, de forma a garantir o máximo desempenho da infraestrutura de TI existente.
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