Acostumado a liderar times e respirar transformação digital, o líder da Nestlé destaca a satisfação das pessoas como ponto crucial para o avanço da transformação digital
O encontro com a TI pode não ter nascido de uma paixão, mas foi nessa área que Ulisses Alem, líder de infraestrutura de redes da Nestlé para a América Latina, encontrou seu propósito. A liderança veio cedo: o líder começou a cuidar de gestão de equipes logo após uma primeira experiência profissional, como analista. Desde então, sua missão – e também seu maior desafio – é motivar pessoas, mesmo que “nem sempre você pode dar o que elas querem”, como ele mesmo diz.
Para Ulisses, o sucesso profissional mora no equilíbrio entre as expectativas dos membros da equipe e os objetivos da empresa. Nessa jornada, ele enfatiza a necessidade de desconstruir certas descrenças e resistências das pessoas em relação à transformação digital – isso sem interferir na individualidade de cada um.
Leia a seguir a entrevista com o gestor.
Como a TI entrou na sua vida? Essa decisão partiu de uma paixão?
Ulisses Alem: Eu estava acabando o Ensino Fundamental, prestes a começar o Ensino Médio, e tinha que pensar em fazer o chamado “colegial técnico”, minha opção foi a de tecnólogo em processamento de dados. Detalhe: eu nunca tinha mexido em um computador na vida.
Para você, o que é fazer sucesso na carreira de gestor de TI?
Ulisses Alem: No meu ponto de vista, sucesso não é atingir o resultado esperado, mas atingir o objetivo que estava por trás daquilo – e não chegar a esse ponto sozinho. Hoje vemos que o conceito de exército de um homem só não existe. Entender como podemos alcançar o que se espera de nós fazendo com que as pessoas envolvidas no processo também estejam felizes… isso é o que entendo como sucesso.
Quais foram as trilhas de aprendizagem e marcos fundamentais para que você chegasse no atual momento da sua carreira?
Ulisses Alem: Para mim, o segredo – que não é tão segredo – está em deixar de lado qualquer orgulho ou superego e ver os outros fazendo. Acredito muito no processo de aprender que observa como outras pessoas conseguem sucesso. Você não precisa ser uma cópia, não existe fórmula mágica. Mas é uma questão de olhar e aprender com os erros.
Outro ponto chave é falar com as pessoas, ouvi-las, entendê-las e respeitar as particularidades de cada uma delas. Isso é fundamental para desenvolver relações de confiança. Quando um time confia no líder, você tem tudo para fazer sucesso.
Pode parecer um clichê, mas é muito importante vestir a camisa da empresa, ter o sentimento de “estar aqui faz sentido para mim”. No meu caso, eu preciso enxergar um propósito no que estou fazendo. Quando acredito no propósito, isso facilita a forma que eu passo a mensagem para o meu time sobre o porquê estamos agindo de maneira A ou B. É uma forma de, literalmente, ter as pessoas ali com você, estar todo mundo junto.
Ulisses, ainda falando sobre a sua relação com a TI, quais são as realizações que te dão mais satisfação nessa área?
Ulisses Alem: Sempre o que me atraiu muito foi o fator humano, o ser gestor. Eu já trabalho com gestão há muito tempo. Depois do meu trabalho como analista, já logo passei para posições de liderança. Sempre quis trabalhar para fazer a diferença e tenho um perfil muito focado em resultados, assim como meus times.
Costumo brincar com eles que benchmarking é a palavra de sucesso na nossa área. Temos que estar sempre de olho no que há de diferente aí fora para ver o que podemos fazer ainda melhor. Um dos fatores que mais motiva equipes é elas terem a liberdade e esse “push” do líder para que busquem coisas novas, assim não são meros executores.
Além disso, busco muito alinhamento com o negócio, entender o que ele precisa e ser um potencializador e facilitador do crescimento.
Como você acha que os líderes de TI são percebidos nas empresas? E essa percepção mudou no cenário pós-pandemia?
Ulisses Alem: Eu trabalho na área de redes, e para a minha área em si quase não houve impacto com a pandemia, pois sempre atuamos remotamente. Tenho parte da equipe em São Paulo, no Chile, no Panamá, no México e no Peru, e todo esse time suporta a América Latina inteira. O que tivemos de desafio foi referente ao relacionamento com as outras áreas. Agora, no meio do dia, aquilo que se resolvia em um café acaba virando uma reunião de 30 minutos. O tempo na agenda ficou mais limitado, é headset na cabeça o tempo todo e reunião atrás de reunião. De alguma forma, acredito que essa mudança impactou a produtividade, não no sentido de tornar o dia improdutivo, e sim mais pesado.
O outro ponto, que justamente é a parte que eu lidero, diz respeito à conectividade – a necessidade de garantir que todas as pessoas que estão trabalhando no modelo remoto estejam conectadas. Já tínhamos adotado o home office de uma a duas vezes na semana, agora 20 mil funcionários que ficavam no escritório estão de casa e precisam estar conectados, receber atualizações, participar de reuniões com vídeo.
Outro impacto é o fator humano: a preocupação fica bem maior em relação às pessoas que trabalham com você, principalmente porque sabemos que cada um lida de uma forma diferente com essa situação. Isso toca muito mais no papel do líder do que na tecnologia em si, e na importância de entender a particularidade de cada indivíduo. É necessário mudar a forma de cobrança e controle, pois em um momento como esse tudo o que não queremos é alguém sofrendo um estresse desnecessário.
Entre todos esses desafios que você comentou até aqui, qual é o maior para você, enquanto líder?
Ulisses Alem: O maior desafio é manter as pessoas motivadas quando nem sempre você pode dar o que elas querem. Entendo que o grande desafio está em alinhar as expectativas individuais com os objetivos que são colocados pela empresa.
Como você lida com a transformação digital na sua rotina de trabalho? Quanto tempo da sua agenda você dedica a esse assunto?
Ulisses Alem: Eu estou respirando isso todo o meu dia, praticamente. Quase todas as reuniões que participo levam “digital” no nome. A Nestlé está em uma jornada de digitalização há um bom tempo, com todas as áreas focadas nisto. Por mais que se fale do digital, da nuvem, tudo roda em cima de uma infraestrutura, e é aí onde entra o meu time de forma muito participativa.
Os conceitos de Agile são mais que uma realidade, mas de alguma forma passam por certa resistência quando saem da teoria para a prática. Muitas vezes os profissionais entendem o conceito, mas não como ele pode ser aplicado dentro de sua área. E é aí onde está o desafio.
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