CIO da PUC Campinas, Margareth Camargo reflete sobre as mudanças impostas ao ensino que devem perdurar mesmo após a pandemia
Ensino remoto e educação a distância não são sinônimos e isso precisou ficar bem claro logo no começo da pandemia. Margareth Camargo, a Maggie, CIO da PUC Campinas, precisou acelerar o processo de transformação digital e do uso de ferramentas digitais para que os alunos pudessem continuar com a rotina de estudos mesmo com a necessidade do isolamento social.
Foram muitas barreiras logo nos primeiros meses: dificuldades técnicas, aprendizado da ferramenta e adaptação de metodologias tradicionais para o ensino remoto. Mas o susto inicial se transformou em lição, e a lição deixou um legado. A herança de um ensino híbrido, pelo menos, parece ter vindo para ficar.
A seguir, nós trouxemos os pontos principais desse bate-papo. A íntegra mesmo está lá no podcast, no link abaixo:
Maggie, essa não é nossa primeira conversa. No ano passado, pouco depois do início da pandemia, você participou de um webinar da 2S sobre os desafios da transição do ensino para o modelo remoto durante o isolamento social. Naquele momento, tudo era muito novo, e agora começamos a entender os efeitos de longo prazo da pandemia. O quanto o tema educação remota e à distância amadureceu de lá para cá, dentro da universidade?
Margareth Camargo: Eu acredito que o desafio da pandemia foi totalmente diferente, tanto para instituições de ensino como a PUC Campinas, que não têm tradição de educação a distância, quanto para aquelas que já têm esse tipo de ensino. Em um primeiro momento, nós tivemos um desafio tecnológico enorme de criar a estrutura rapidamente para que o aluno pudesse fazer as aulas remotas. Como nós já havíamos pensado na possibilidade de oferecer ensino a distância, já tínhamos uma estrutura praticamente pronta, então corremos com isso para colocá-la no ar.
O primeiro desafio do professor foi aprender a ferramenta em um curto espaço de tempo, e então começamos o ensino remoto com a metodologia do ensino presencial. Em um primeiro momento, o foco era aprender a ferramenta, não deixar de cumprir o programa de aula, mas sem olhar muito para o projeto pedagógico, que estava sendo simplesmente encaixado no ensino remoto.
Muita gente se adaptou para a possibilidade do ensino a distância. Muitos professores cresceram, e mudar um projeto pedagógico não é simples. Eles não só se adaptaram, como também já estão gostando disso e mudando o estilo da aula voltado a esse ensino remoto. Por isso, vejo a PUC como um caso de sucesso. Houve toda essa evolução dos professores, que além de mudarem o modelo mental em relação à tecnologia, estão fazendo coisas ainda melhores para os alunos.
Parece que começamos a viver um novo momento, com o avanço da vacinação, mas ainda não dá para falar em normalidade, muito menos na educação. Você já consegue ter uma visão de futuro? Você acha que tudo voltará a ser como era antes nesse setor?
Margareth Camargo: Eu não acredito nisso, Silvia, a partir do momento que você conhece uma nova metodologia e o tanto que ela pode trazer de benefícios. Gravar aula é bárbaro. Claro que estar em uma aula presencial é um show, mas se o aluno perdeu aquela aula por motivo de saúde ou qualquer outra coisa, ele nunca mais a recupera. Essa facilidade de poder retomar aquela aula, mesmo se você não entendeu alguma coisa, é fantástica. Não dá para desperdiçar isso e uma série de outros benefícios que acredito que os professores não vão querer abrir mão. Eu sinto que eles gostaram de muitas coisas.
Creio que a tendência do todo é repensar, falar sobre metodologias ativas, colocar esse assunto em pauta e ter uma questão híbrida, que é um equilíbrio, e equilíbrio sempre é bom.
Quando nós nos falamos, lá no comecinho da pandemia, você comentou o quanto a participação de um professor, em especial, estava ajudando você a mobilizar todo o quadro de professores para o uso da tecnologia. Essa parceria nos levou a ver na prática o que é integração entre TI e negócios. Você observou uma evolução fruto dessa educação, dessa evangelização do corpo docente?
Margareth Camargo: O professor Edmar, que a gente tem uma admiração grande por ele, sempre foi um ponto fora da curva no interesse, na tecnologia e tudo o mais. Agora nós temos vários pontos fora da curva, e que legal. Temos um pessoal mais jovem que se interessa mais, acaba aprendendo mais e ajudando outros. Nós tivemos uma evolução, com certeza, e foi ótimo. Aconteceu uma quebra de paradigma, é o despertar para um mundo novo. Todos nós, seres humanos, temos dificuldades para questões novas.
O que mudou na sua jornada como CIO nesses meses atípicos? Como ficou o seu dia a dia de trabalho e até mesmo o seu estilo, as suas práticas de gestão?
Margareth Camargo: O meu modelo mental sempre foi essa coisa de olho no olho, sentar em grupo de pessoas para resolver, conversar, compartilhar informações e eu confesso que, no começo, eu senti um pouco de dificuldade e receio que isso não fosse dar certo, mas deu. É uma coisa nova e você tem que experimentar.
Uma coisa que atrapalhou um pouco, em termos profissionais, é que o conceito do home office, que sempre existiu, foi totalmente retorcido. Quando o home office virou obrigação, as pessoas não tinham espaço preparado para isso. A conciliação foi muito difícil nos três primeiros meses. O sentimento de estar próximo às pessoas foi embora. Senti menos as pessoas e senti também que aquelas pessoas que precisavam muito dos outros deixaram de produzir. A gestão ficou um pouco mais fria, mas também não sei como poderia ser diferente disso. Está tudo muito mais frio.
Ouça a entrevista na íntegra aqui.
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