‘Líderes que transformam’ | episódio 7: “Jeison Costa: para além dos dados, uma inspiradora jornada de vida”

novembro 09, 2021
Com quase 30 anos de atuação no mundo da TI, dos quais 14 anos no mercado chileno, Jeison Costa fala sobre a transformação digital no mercado latino-americano e conta um pouco de sua rica e inspiradora jornada

Com quase 30 anos de atuação no mundo da TI, dos quais 14 anos no mercado chileno, Jeison Costa fala sobre a transformação digital no mercado latino-americano e conta um pouco de sua rica e inspiradora jornada

Se unir bons conhecimentos técnicos e habilidades claras de gestão  de pessoas é uma difícil missão, somar a isso a aptidão para os esportes, então, é uma dádiva para poucos. E, se isso parece impossível, Jeison Costa faz questão de mostrar que não. 

CIO do Grupo Corona, Costa passou a acumular também, recentemente, o posto de CEO de uma área importante da companhia, cujo principal negócio é o varejo de moda, por meio do qual atua na América Latina, tendo como sede o Chile, país onde o executivo mora há mais de 14 anos. Além dos conhecimentos no setor de varejo, Costa carrega uma bagagem cheia de experiências por diferentes setores e acumula percepções que só têm aqueles que viram a transformação digital acontecer diante dos próprios olhos nos últimos 20 anos.

Quer saber como foi o bate-papo? Abaixo, você lê parte dessa conversa. A íntegra mesmo está lá no podcast, no link abaixo:

Jeison, antes de trazer a sua história, vou começar nosso papo pelo fato novo. Você é o CIO do Grupo Corona e, há alguns meses, tornou-se CEO da operação de varejo digital do grupo também. Esse acúmulo de funções, sendo uma o cargo máximo de uma empresa, é um sinal dos tempos? O profissional de TI que, até bem pouco tempo, não tinha uma posição estratégica nas grandes companhias, agora é uma das vozes mais respeitadas da empresa? É possível afirmar isso e ainda dizer que a pandemia tem parte importante nessa mudança?

Jeison Costa: A tecnologia é muito acessível e tomou um rumo muito diferente nos negócios. Hoje em dia, a gente tem uma tremenda ferramenta tecnológica na palma de nossas mãos.

Estou há muitos anos nessa área, vou completar 44 anos e, assim como muitos brasileiros, comecei trabalhando bem cedo, com 16 anos, como trainee em eletrônica na IBM. Nessa época, a tecnologia era muito diferente, com computadores de muito difícil acesso. Eu fui subindo, tendo bastante oportunidade e conhecendo muita gente que me ensinou o caminho da gestão, e não só do mundo técnico — apesar de ter passado muito tempo nele.

Ao longo desses 20 anos de desenvolvimento tecnológico, o que eu vi foram três grandes saltos sobre o papel que a tecnologia representa dentro das organizações. Havia uma grande desconexão entre negócios e tecnologia. A TI era vista como uma área à parte, que estava ali para dar suporte e resolver problemas. Com o tempo, esses dois setores foram se aproximando e se integrando, mas ainda não 100%. E, nesse segundo momento, a tecnologia passou a ser vista como uma área de apoio ao negócio, e não só de suporte. Hoje em dia, nessa última evolução da transformação digital, ela já está 100% no centro do negócio. A tecnologia é o principal acelerador e habilitador de desenvolvimento e crescimento do negócio.

Na Corona, entrei como CIO e estou há oito meses. Começamos com uma estratégia de transformar o negócio financeiro em uma fintech, estamos saindo muito fortes com produtos digitais no final deste ano e no começo do próximo ano. E, quando a gente fala de transformação digital no varejo, não se trata somente de desenvolver o lado do comércio eletrônico, mas também de uma transformação do mundo físico. 

Vamos voltar um pouco para o seu início. Você saiu do interior do Rio Grande do Sul, foi para Porto Alegre, de lá rodou o Brasil em vários trabalhos, viajou o mundo e foi parar no Chile. Em algum momento, lá no comecinho da sua história, quando você conheceu a TI e se apaixonou por ela, você imaginou que se tornaria um profissional com a projeção que tem, não só como técnico, mas como um homem de negócios?

Jeison Costa: Definitivamente não. Eu acho que tudo tem a ver com a minha realidade de criança humilde. Sou filho de uma professora de português e um metalúrgico, duas grandes pessoas que deixaram valores para mim e para os meus irmãos. Sempre nos estimularam a correr atrás do que queríamos e sempre se preocuparam que fizéssemos um curso técnico no segundo grau, porque não poderiam pagar a faculdade para cinco filhos. 

Quando eu entrei na eletrônica, busquei aquilo porque diziam, na época, que aquela era a profissão do futuro. Entrei com uma visão estratégica dada pelos meus pais. Quando entrei nesse mundo, vi que tinha bastante afinidade com o que eu estava aprendendo. Associo muito esse crescimento de chegar a posições executivas aos tremendos profissionais com os quais tive a oportunidade de trabalhar. Tive excelentes líderes que me apresentaram diferentes possibilidades e alternativas pelas quais seguir minha carreira. 

Para você que vive isso há muito tempo, o que mudou em termos de transformação digital de 10 anos para hoje?

Jeison Costa: Eu vejo dois grandes pilares que geram uma mudança radical e exponencial. O salto tecnológico e de transformação digital de 2000 a 2021 é gigantesco. Se a gente olhar o salto tecnológico nos últimos 10 anos, ele é ainda maior do que de 2000 a 2010. Eu associo isso ao próprio desenvolvimento das tecnologias disponíveis e do acesso a essa tecnologia. Outro ponto tem a ver com o perfil das pessoas: hoje temos jovens que já nasceram em um mundo 100% digitalizado, e isso gera uma aceleração incomparável.

A transformação digital acontece de forma global, mas você acredita que esse processo tem peculiaridades no mercado chileno? Quais seriam essas peculiaridades e, aproveitando, qual é a diferença que você enxerga entre a transformação digital no mercado chileno e no mercado brasileiro?

Jeison Costa: Isso é interessante. Hoje vejo o Chile com certas indústrias e tecnologias mais desenvolvidas que o Brasil e outras que estão mais atrás. Por exemplo, o negócio de comércio eletrônico no Chile é o mais desenvolvido da América Latina. Por outro lado, quando a gente vai para a indústria das fintechs, o Brasil está mega-acelerado — à frente até dos Estados Unidos, inclusive. 

Jeison, hoje, você está num varejista enorme, mas sua experiência com TI aplicada ao varejo vem de antes, inclusive com a sua empresa, a Doki Doki, uma confeitaria digital que combina os sabores brasileiros e japoneses, certo? Mas você também já trabalhou em empresas de educação e de outros segmentos. Bom, a minha pergunta é a seguinte: a transformação digital é muito diferente, na essência, de um tipo de negócio para o outro? 

Jeison Costa: Eu acho que não tem diferença, não. Eu vejo a transformação digital com quatro pilares, como uma mesa de quatro pés: a experiência do cliente, a tecnologia a ser utilizada, metodologias que permitam agilidade e o quarto pilar tem a ver com as pessoas e como estruturar a organização para poder tomar decisões. E isso é transversal a qualquer indústria.

Você é um dos dois únicos latino-americanos que conseguiram percorrer 1 mil quilômetros pelos quatro maiores desertos do planeta. Ou seja, gosta de desafios não só profissionais, mas pessoais, emocionais e físicos. Conta pra gente como é a sua relação com esse esporte, a importância e o significado dele para você e em que medida ele o inspira na vida profissional e vice-versa. 

Jeison Costa: Esse tema é um xodó para mim. Cada pessoa vai reunindo alguns hobbies durante a trajetória. Eu sempre tive uma conexão muito forte com o esporte desde pequeno e, quando eu estava com 13 anos, comecei a matar aula para jogar bola o dia inteiro. Quando vi, estava reprovado por faltas e perdi a vaga em um bom colégio. Meu pai não me deixou jogar futebol e me fez trabalhar com ele na metalúrgica. 

Um belo dia, meu pai se animou me vendo jogar futebol, passou a me incentivar e, assim, eu chegaria às categorias de base do Grêmio de Porto Alegre. Fui avançando na base da equipe, estava muito bem encaminhado. Mas, aos 16 anos, meu pai faleceu. Então, tomei uma decisão: parar de jogar bola e arrumar um trabalho com o qual eu pudesse ajudar minha mãe.

Depois de muito tempo, quando fui morar em São Paulo, fiquei sem me exercitar e ganhei muito peso, cheguei aos 112 quilos. Comecei a caminhar e tentar correr: uma coisa levou a outra. Me inscrevi em uma prova de 10km, terminei e foi uma superação gigantesca. Você vai entendendo que você é a único responsável por chegar lá ou não chegar lá. 

Entrei nesse mundo das corridas: 10, 21, 42km, comecei a me dedicar mais e cheguei à Racing the Planet, que organiza essas ultramaratonas por desertos. Tomei a decisão de percorrer os quatro principais desertos do mundo em um ano. Foi uma experiência incrível e poderia falar sobre isso por muitas horas. O mundo esportivo está muito conectado a quem é o Jeison na vida pessoal e profissional também. 

Ouça a entrevista na íntegra aqui

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