“A tecnologia pode nos levar para diferentes lugares”, garante Daniel Domingues, coordenador de redes da Cinemark Brasil, empresa que gerencia 634 salas de cinema em todo o país, o equivalente a 30% do mercado brasileiro. Um setor que sofreu com o fechamento imposto pela pandemia — e que encontrou na tecnologia e na transformação digital algumas das respostas para superar o período de salas fechadas.
Domingues é o terceiro entrevistado da nova temporada do podcast Líderes que Transformam. Ao longo de três episódios, ele conversou com o jornalista Wagner Hilário. Falou de TI, liderança, tecnologia e de uma carreira trilhada nas áreas da cultura e da educação. Desde 2016 na Rede Cinemark, Daniel Domingues também trabalhou por uma década na Cultura Inglesa.
“Minha primeira experiência nas duas empresas foi do outro lado, como cliente”, relata Domingues, que é formado em Ciências da Computação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Criado na Zona Norte da capital paulista, ele passou a adolescência estudando inglês nas escolas da Cultura Inglesa, por incentivo dos pais, que sabiam da importância em dominar o idioma. Aos finais de semana, Domingues curtia os cinemas dos shoppings da região, como tantos outros adolescentes.
A ligação com a tecnologia é outra coisa que vem de berço, ou melhor, de quando tinha 10 anos e ganhou seu primeiro computador. Curioso, Domingues passou a mexer no sistema operacional para tentar otimizar o desempenho da máquina. Não foi difícil para o menino escolher a carreira, mas as descobertas — e as mudanças de rota — continuaram na faculdade.
“Sofri bastante com as disciplinas que envolviam lógica de programação, que eram praticamente todas. Até que, no sexto semestre, surgiu a disciplina de rede de computadores. E aí tudo mudou para mim”, relata. Após a conclusão do curso, Domingues fez mestrado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, em Engenharia de Computação e Redes de Computadores.
Os 10 anos na Cultura Inglesa deixaram marcas no currículo de Domingues — e a capacidade de falar, como poucos, sobre tecnologia aplicada na educação. Ele cita o uso de lousas digitais, que tornaram as aulas mais interessantes e criativas. “Antes as atividades ficavam só nos livros; a partir daí tudo ficou mais interativo. Isso dava uma visão diferente para os alunos e aumentava a adesão e a participação nas atividades”, recorda.
Embora já não estivesse trabalhando na área de educação quando a pandemia de covid-19 fechou o mundo, Domingues avalia os impactos causados ao setor pela crise sanitária. E que no ensino privado, principalmente, a tecnologia foi uma grande aliada, com a adesão de ferramentas de ensino à distância. Mudanças que vieram para ficar. “A tecnologia pode ser usada em prol do aprendizado. Eu acho que o modelo híbrido funciona muito bem: você tem a experiência presencial, mas pode utilizar a tecnologia sempre que necessário, proporcionando maior interação e alcançando outros lugares”.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Península, 88% dos professores do país nunca tinham dado aula à distância antes da paralisação das atividades presenciais por conta da pandemia. Um número que expressa o tamanho do desafio para o setor da educação, que precisou treinar equipes e alterar o modelo de trabalho, tudo isso no espaço de tempo mais curto possível.
Se o desafio para dar aulas à distância e adotar a tecnologia foi maior nas escolas públicas, as escolas privadas também enfrentaram um problema: o financeiro. O Grupo Rabbit, consultoria de gestão escolar, estima que 2,7 milhões de alunos — mais de 30% — cancelaram suas matrículas em escolas particulares por conta do coronavírus.
No trabalho à distância, aprendemos a mostrar para as outras pessoas que, mesmo se você está do outro lado da tela, você está ali, pronto para ajudar. E não só em questões profissionais.
Embora garanta que também consome filmes e séries nos streamings, Domingues faz questão de destacar que as salas de cinema nunca perderão seu papel — e que as duas tecnologias não são concorrentes. “Num cinema, você tem a experiência de viver com outras pessoas diversas emoções”. Ele destaca que algumas coisas nunca vão mudar no cinema, como a busca por uma pipoca gostosa e a imersão completa numa sala escura e com imagens em alta definição. Apesar disso, a tecnologia pode sim trazer mudanças. O que é natural, afinal a sétima arte surgiu a partir de um desenvolvimento tecnológico. “Apesar de ser antigo, o cinema não está ultrapassado. E segue se reinventando a cada dia”, completa Daniel Domingues.
“Hoje, toda a operação da sala de cinema é automatizada. Desde o ar-condicionado, na hora que liga ou desliga a climatização, até a exibição de comerciais: tudo é feito de forma programada. Então a tecnologia já é uma realidade no cinema”, diz. Ele compara as dificuldades de distribuição de outras épocas, quando o filme tinha que ser levado em cada unidade de cinema espalhada pelo mundo, gerando um enorme desafio e custo logístico, com a situação atual, em que tudo é feito de forma digital. “Hoje os filmes são baixados por uma conexão de satélite segura, é bem mais simples e rápido”, explica. Domingues aposta que a tecnologia pode tornar o cinema cada vez mais interativo, com conteúdos personalizados para cada cinéfilo, mergulhando de vez na transformação digital.
Domingues, que passou a ocupar um cargo de liderança durante a pandemia, atuando como coordenador de redes da Cinemark e comandando o time de Sustentação e Segurança da Informação, revela que o período foi cheio de aprendizados. Em 2020, primeiro ano da pandemia e quando o isolamento foi maior, a bilheteria nos cinemas brasileiros caiu 78%, o que gerou incertezas e preocupações nas equipes.
“Foi um grande desafio. No trabalho à distância, aprendemos a mostrar para as outras pessoas que, mesmo se você está do outro lado da tela, você está ali, pronto para ajudar. E não só em questões profissionais. Você tem que entender o momento que as pessoas estão passando, precisa tentar motivá-las, mesmo com as enormes adversidades”, pontua.
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