Inicialmente voltado ao mundo de vendas e de logística, o executivo precisou tomar uma decisão: seguir na área de negócio ou migrar para a tecnologia. Qual foi a motivação por trás dessa escolha?
De administrador a líder de TI: essa não é a rota mais convencional da carreira de CIO. Mas o envolvimento com a área de TI foi a missão que Alexandre Telles, formado em administração, decidiu encarar de frente. Decidiu por esse caminho para desenvolver uma visão ampla e completa de todas as áreas da Ajinomoto e, assim, pensar e debater alternativas para o crescimento da empresa.
Como a história prova, Alexandre defende que a tecnologia precisa estar no centro do negócio para impulsionar seu desenvolvimento, e não ser vista apenas como provedora de recursos tecnológicos que servem como meio e facilitam o dia a dia dos diferentes segmentos da organização. Soma-se a esse desafio as necessidades do momento, em meio à pandemia da Covid-19 – especialmente a preocupação com o fator humano.
A seguir, você lê a nossa conversa na íntegra com o gestor.
Como a TI entrou na sua vida?
Alexandre Telles: O início da minha carreira não foi em tecnologia da informação. Minha formação é em administração. No começo, eu estava voltado às áreas comercial e de logística, mas com o passar dos anos, comecei a ter contato com tecnologia e a liderar as pessoas-chave da cadeia de supply chain. A partir daí, comecei a criar laços entre tecnologia e negócios. Chegou um determinado momento em que a iniciativa de TI consumia muito tempo do meu dia a dia na área de negócio, então tive que tomar uma decisão: seguir com negócios ou migrar para a tecnologia para agregar mais à organização.
Como é a sua rotina e o que mudou nela depois dessa transição? Ela foi impactada pelo cenário de pandemia?
Alexandre Telles: No momento em que fiz a transição de negócios para TI, comecei como responsável pela área de aplicações. Com o passar do tempo, fui buscando conhecimento sobre outras frentes, como infraestrutura, operações, governança e segurança, e então alcancei a cadeira de diretor de TI.
Com a pandemia, teoricamente, a posição não mudou, mas o olhar para toda a organização muda um pouco. No momento de crise, temos que pensar em como usar as oportunidades que aparecem para contribuir e mudar o negócio da Ajinomoto. Todo o trabalho foi colocado em home office, mas o dia a dia permanece o mesmo, só a forma de atuar que fica diferente. Ao invés de estar presencialmente com seus pares, com toda a equipe, você trabalha de uma forma virtual, mas sempre buscando a eficiência, a produtividade e, especialmente agora, tomando muito cuidado com a saúde mental de todo o time.
Para você, o que é fazer sucesso na carreira de gestor de TI?
Alexandre Telles: Fazer sucesso numa posição de líder de tecnologia em uma indústria de manufatura, onde tecnologia não é o core do negócio, é colocá-la ao lado de negócios, numa posição estratégica de contribuir para a organização – vendendo mais, reduzindo custos de produção e buscando mais eficiência.
Quais marcos de aprendizagem fizeram com que você chegasse à posição que ocupa hoje?
Alexandre Telles: Quando você está dentro de uma área comercial ou de logística de uma organização, de uma manufatura multinacional considerada grande como a Ajinomoto, você fica limitado dentro da sua área de atuação, enquanto tecnologia é uma função cross dentro da empresa. A vontade de conhecer todas as áreas me fez realizar a transição para a liderança em TI, com a possibilidade de ter uma visão mais generalista do todo, cobrindo todos os processos.
Quais são as realizações que te dão mais satisfação nessa área?
Alexandre Telles: É a realização de poder contribuir com o negócio. Todas as iniciativas que nós trouxemos para a área de negócios, as inovações para estar mais próximo ao consumidor… tudo isso é o que me dá mais satisfação.
Como você acha que os líderes de TI são percebidos nas empresas?
Alexandre Telles: Existem dois modelos de líderes de TI. Primeiro, o líder que nasceu dentro da tecnologia, aquele que vem de uma carreira técnica. Vejo que esses profissionais precisam se voltar ao negócio para que possam colocar a TI em uma posição estratégica. De outro lado, há o líder que não vem de tecnologia, e sim de negócio, como é o meu caso, aí conseguimos trazer toda essa visão do outro lado da mesa. Cada vez mais precisamos respirar negócio e entendê-lo para transformar a tecnologia e suportar o crescimento da empresa.
Qual é o maior desafio que você enfrenta enquanto líder de TI?
Alexandre Telles: No momento que vivemos, em meio a uma crise, quando as oportunidades se afloram em todos os segmentos e a agilidade do consumo de tecnologia vem muito forte, o principal desafio é orquestrar todas as demandas. A gente escuta no mercado que a pandemia acelerou 6 anos ou 10 anos a tecnologia na nossa jornada, e tivemos que fazer isso em alguns dias, com reuniões online e home office. O desafio que eu vejo é de orquestrar toda essa mudança de forma muito rápida e assertiva.
Como você lida com a transformação digital na sua rotina de trabalho? Quanto tempo da sua agenda você dedica a esse assunto?
Alexandre Telles: A transformação digital é um tema que já foi absorvido dentro do meu dia a dia. Estou trabalhando com isso desde 2016, então é pauta diária em meio a reuniões e iniciativas. Eu poderia dizer que consome cerca de 70% da minha agenda.
A transformação digital não é só tecnologia. A tecnologia é apenas um meio de atingi-la. O mais importante no termo é a palavra “transformação” – a necessidade de transformar processos, pessoas e formas de trabalho. Precisamos mudar a maneira que nos relacionamos com os clientes, com os consumidores, e também o nosso mindset, para que a tecnologia consiga realizar tudo isso.
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