Além da óbvia e preocupante exposição dos colaboradores a riscos para a saúde, os acidentes de trabalho causam prejuízos de mais de R$ 4 bilhões às empresas e aos cobres públicos brasileiros
Se viver é correr riscos, trabalhar também pode passar por essa máxima. Essa é realidade de empresas cujas atividades colocam profissionais em maior grau de exposição, como diversos ramos de indústria, siderurgia, mineração e utilities, apenas para citar alguns exemplos. Não por acaso, o tema segurança do trabalho é um dos mais sensíveis, e está longe de alcançar um esgotamento.
De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes do Trabalho (Diesat), entre 1970 e 2018, o Brasil registrou 42,7 milhões de acidentes do trabalho, com 645 mil pessoas doentes e mais de 173 mil mortes em decorrência dessas fatalidades. Apenas em 2018, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social, foram registrados 360.320 acidentes no país, número que pode ser muito maior, já que existem os casos subnotificados.
O que esses números não mostram é que uma parte considerável dessas ocorrências poderia ser evitada com investimentos em tecnologia da informação, com ferramentas e soluções capazes de monitorar as dinâmicas de trabalho, mitigar riscos, facilitar a comunicação e até mesmo emitir alertas e comandos em tempo real. Isso sem, necessariamente, envolver o uso de tecnologias disruptivas, e sim soluções simples e eficientes.
A grande questão em torno da implementação desse tipo de projeto é a conectividade, como explica Gisele: “Grandes extensões de áreas a serem cobertas e a carência de serviços de comunicação oferecidos por operadoras em áreas mais longínquas são grandes desafios para setores que precisam de soluções de rastreamento e monitoramento para otimizar suas operações”. Um dos possíveis caminhos é o uso de soluções multiconectadas, que alternam conexões entre 3G, 4G e bandas por satélite, ou mesmo conexões como as redes LoRaWAN, direcionadas ao mundo IoT.
A integração da TI com as políticas e medidas tradicionais de segurança do trabalho traz uma assertividade capaz de suplantar, inclusive, um dos grandes problemas enfrentados por essas organizações: a conduta das próprias pessoas. “Muitas empresas estão preparadas, mas os usuários em si, muitas vezes, ignoram o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual), por exemplo”, conta Emerson Possamai, especialista de transformação digital para indústria na 2S Inovações Tecnológicas.
Outro ponto que gera demora no uso da tecnologia para a área de segurança do trabalho é a percepção ainda existente da TI como custo. “Alguns projetos transformadores e que envolvem conectividade acabam patinando pela visão de que investir é caro, levando em consideração o budget disponível para TI. É preciso passar a levar em conta os custos das áreas de negócio frente à falta da tecnologia, e para isso é necessário maior engajamento e aprendizado entre os times de TI e TA/TO“, alerta a especialista Gisele Braga, gerente de transformação digital da 2S.
Cabe às organizações promover o efetivo encontro entre o trabalho dos gestores responsáveis pela segurança dos colaboradores e a eficiência da TI, criando soluções que facilitem o monitoramento das equipes. A motivação é, em primeiro lugar, o cuidado com as pessoas e a garantia de condições ideais de atuação para os profissionais. Porém, do lado gerencial, também há um fator relevante: os impactos financeiros. De acordo com dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), os acidentes de trabalho representam um prejuízo anual de mais de R$ 4 bilhões às empresas e aos cofres públicos brasileiros.
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