No ranking do Índice Global de Inovação (IGI), que acaba de ser divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o Brasil ocupa a 57ª posição. O levantamento envolve 132 países e, embora o Brasil tenha subido cinco posições em relação ao ranking do ano anterior, não há dúvida de que o País poderia estar mais bem colocado se houvesse mais investimento em ciência, tecnologia e inovação.
O fato é que, para quem tem dúvidas do valor da tecnologia, nos últimos meses, em razão de todas as restrições associadas à pandemia, ele se provou na rotina de todos nós, inclusive na dos próprios cientistas.
“Nesse momento de pandemia, nós pudemos trabalhar de nossas casas, fisicamente isolados, mas conectados a uma rede de colaboradores. Inovações colaborativas, como projetos de código aberto, foram essenciais para que muitos setores produtivos pudessem atravessar essa crise sem interromper suas atividades — o que, naturalmente, inclui os profissionais da ciência”, diz Christian Esteve Rothenberg, professor-doutor da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo ele, a necessidade de distanciamento social, na prática, não impactou a captação de dados de pesquisa. “A tecnologia nos permitiu expandir os laboratórios para além de seus limites físicos, com participantes do mundo inteiro. Isso porque o cientista não precisa estar no espaço físico. Ele deve contribuir para o pensamento do grupo e pode fazer isso de onde quer que esteja.”
Se a tecnologia permite fazer ciência para além do chão, do teto e das paredes do laboratório, dentro dele, ela também contribui, inclusive para que as descobertas sejam ainda mais reveladoras e luminosas.
Dennis Campos, gerente de TI do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), diz que, sem os avanços tecnológicos dos últimos anos, não seria possível obter os resultados de pesquisas que foram alcançados, por exemplo, pelo projeto Sirius, um acelerador de partículas de quarta geração.
“Nas estações experimentais do Sirius, teremos cada vez mais pesquisadores fazendo análises de diversos tipos de amostras. Nosso desafio era ter equipamentos tecnológicos para obter as imagens dessas amostras científicas que os pesquisadores estão investigando. Então, muitos equipamentos tiveram de ser criados e fabricados, porque não existiam. O Sirius acabou impulsionando um grande avanço tecnológico nesse sentido.”
O acelerador de partículas já foi até mesmo utilizado para experimentos relacionados à covid-19. “O Sirius é a prova de que a ciência estimula o desenvolvimento tecnológico, ao mesmo tempo em que se vale de tecnologias para ampliar o conhecimento científico”, analisa Dennis Campos.
Como se vê, o retorno proporcionado, à sociedade, pela relação cíclica e retroalimentada entre ciência e tecnologia é inestimável. Porém, tanto uma quanto outra dependem do engenho humano. Por isso, investir em ciência e tecnologia é, antes de tudo, investir em pessoas.
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